segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Sorriso vazio

Por Josciene Santos
"Ôh, minha filha, eu sinto falta sim। Mas o que posso fazer se estavam todos estragados e doendo muito?", confessou Maria Alzira, de incertos 75 anos, moradora de Itapuã।Alzira já não possui nenhum dente na arcada superior e apenas 7 , estragados, na inferior। Esse fato lhe enquadraria apenas como mais uma dentre tantas pessoas na mesma situação em todo o Brasil। Porém, na medida em que ela se recusa a utilizar qualquer tipo de prótese em substituição aos dentes retirados, ela se afasta da tendência verificada pelos profissionais da área odontológica.



Dianil Régis, odontologista que atende em seu consultório protético situado no prédio Itamaraty, Garibaldi, aponta que a grande maioria das pessoas que retiram os dentes não enxergam a possibilidade do não-uso da prótese. “É uma questão de estética mesmo. E mais ainda, é uma questão de convívio social. Ninguém com os dentes estragados se sente seguro para procurar emprego, amigos ou namorado”, afirmação que é confirmada por Cristina Alves, 29, que comprou um aparelho protético em Itapoã: “Meus dentes se estragaram cedo, mas só a 6 anos eu decidi extrair a maior parte e colocar uma prótese móvel. O resultado foi muito bom. Hoje eu não coloco mais a mão na boca na hora de sorrir, e tive coragem de ir procurar um emprego.”
Os preços das próteses variam a depender do grau de perfeição exigido pelo cliente. “Talvez pelo fato de meus clientes serem de classe média e média alta, eles não aceitam um produto que não chegue perto da perfeição. As classes menos abastadas, felizmente, se contentam com um serviço menos elaborado ou aperfeiçoado”. Segundo Régis, para se conseguir pequenos detalhes, mas que fazem toda a diferença e podem significar a total dissimulação do uso dos dentes artificiais, é necessário um imenso trabalho. Trabalho esse que é repassado ao preço. O valor das próteses feitas pelo doutor Régis chegam a variar entre 1 mil e 50 mil reais, a depender da quantidade de dentes a serem substituídos, do tempo dedicado à confecção e do material utilizado. Mas , em bairros populares, em consultórios que, nas palavras dele, “ não pagam condomínio ou aluguel alto, que não têm uma folha de pagamento cara, que não são constantemente pressionados pela obrigação de conseguir produtos perfeitos” as próteses têm um preço mais acessível, como comprova o consultório de doutora Sheila Carvalho, Itapoá e o de Dr. Luís Melo, São Cristóvão, nos quais uma prótese móvel, completa, custa entre100 e200 reais.
Osvaldo Vidal, odontologista do Centro de Saúde Hélio Machado, em Itapoã, alerta para o fato de as pessoas enxergarem nas dentaduras postiças uma saída estética eficiente, mas que apenas camufla suas aparências de desdentadas. “O sujeito já vem aqui pedindo para extrair os dentes. Ele não quer saber se podem ser recuperados ou não. Geralmente estão doendo, inchados, portanto eles só querem se livrar da dor de uma vez por todas, e não pensam muito antes de escolher se querem, literalmente, arrancar o problema pela raiz ou voltar algumas vezes ao dentista para fazer os reparos necessários”,afirmou.
Quando indagado sobre a insuficiência do SUS em arcar com a demanda odontológica e sobre a viabilidade econômica de bancar a feitura de próteses à população,Vidal não poupa críticas.“Dinheiro para ser investido na saúde existe. O que não temos é políticos de verdade para encaminharem esses recursos para onde devem ser direcionados, que deixam a saúde publica às mínguas”. No dia 25 de abril, o Centro de Saúde Hélio Machado, posto de referência em atendimento odontológico de emergência, estava com todos os aparelhos quebrados. “Se uma pessoa chega aqui hoje e está precisando de uma cirurgia, ou bateu o dente em algum lugar e quebrou, e está sangrando, eu sou obrigado a encaminhar para outro lugar, que só deus sabe se estará em condições de atendê-la, porque aqui está tudo quebrado. No máximo vou poder receitar um remédio para aliviar a dor”, indignou-se Vidal.
Procurada para dar maiores informações a respeito dos postos odontológicos em Salvador, a Secretaria Municipal de Saúde mostrou-se inacessível. Após horas sendo transferida de ramal em ramal na tentativa de agendar uma entrevista antecipadamente, a repórter dirigiu-se até a sede da secretaria por duas vezes consecutivas, ambas em vão. Vencida pelo cansaço, a doutora Xx da Secretaria de Saúde resolveu dar uma rápida entrevista, deixando bem claro que não estava dando uma informação oficial, que não permitiria a gravação da entrevista, e que nem mesmo consentiria que a repórter saísse dali levando a folha, na qual xx rabiscou algumas informações.
Xx não tentou negar o caus verificado no Centro de Saúde Hélio Machado. Mas justificou, após telefonar para o Centro: “o compressor estava quebrado. E com isso nenhum outro aparelho poderia funcionar. Mas ontem, dia 03 de abril, um novo compressor foi enviado”.Xx cita os projetos implantados em salvador com o intuito de oferecer uma saúde bucal mais eficiente na cidade. “Temos postos de bairros, os Postos de Saúde Familiar (PSF), os Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), os Programas de Saúde na Escola (PSE)”. E diz reconhecer que “ainda há muito por fazer, mas não se deve generalizar esse caus verificado no Centro de Itapoã como sendo de toda Salvador, apesar de haver outros postos em situação parecida”,concluiu.

Um comentário:

Josci disse...

Essa foi uma reportagem q publiquei no Jornal da Facom, há uns mese atrás. Pensei em refazer a matéria, em visitar novamente os locais onde fui p realizar a primeira versão antes de republicá-la no blog. Até comecei. Mas logo percebi que não seria necessário. Pq??? Ah!! Acho q explicações desse tipo são desnecessárias em se tratando da saúde pública de Salvador...sempre a mesma m...